Romântico-fofo ou Sookie-style?

Resolvi aproveitar a deixa de uma reportagem interessantíssima chamada “Onde termina a ficção pornô e começa a ‘vida real’ na cama?” do jornal O TEMPO e fazer uso do exemplo brilhante de ex-aluna (também brilhante!) que se pôs a escrever bastante sobre temas variados, sem estacionar eternamente, como eu havia feito, em certos assuntos. Mais de um mês de greve e só agora me rendi ao ímpeto da mudança: quero (e preciso) aprender a escrever em português direito e “virar o disco” na minha cabeça.

Este tema vem me rodeando já há algum tempo, tanto por motivos pessoais quanto culturais. A primeira vez que eu me atentei para a questão da “invasão pornográfica” foi durante um filme chamado THE GOOD GUY, cuja proposta era mesmo de ser “fofinho e romântico,” meu estilo de filme preferidíssimo. E vejam só: a atriz principal é a famosa Alexis Bledel, que fez seu nome interpretando a timidíssima Rory em GILMORE GIRLS; entretanto, a atriz cuja fala me chamou atenção era Anna Chlumsky, que, para quem nunca soube, é a protagonista do filme MEU PRIMEIRO AMOR (ou MY GIRL no título original). No filme, dois ícones do ideal romântico-fofo discutiam suas relações sexuais, e em determinado momento, a menina do MY GIRL expressa sua surpresa com o fato do namorado da Rory Gilmore “ainda curtir” o que ela chamou de “sexo vaginal.” Não estava prestando muita atenção na hora – o Bryan Greenberg não estava em cena – mas eu parei tudo e voltei o filme pra confirmar se havia entendido corretamente.

“Pô, o trêimn tá prêto heimn!”

(Reação default de uma jovem mineira diante de adversidades em potencial.)

Foi assim o meu primeiro alerta para o quanto as coisas estão – realmente – mudadas. Não estou colocando o sexo anal em evidência, mesmo porque sei que as adeptas ao estilo romântico-fofo também o fazem. Encarar o sexo anal como “pornográfico-sujo” seria um super erro, e a cena desse filme deixa isso bem claro.

Tudo bem que se tratavam de novaiorquinas, que, pelo visto, são AS liberais, AS curiosas, AS prafrentex. Elas são mais flexíveis (a ambiguidade é por sua conta), mais moderninhas, mais whatever… E a minha cidade ama ser comparada a NY. Afinal, a campanha “Eu amo BH radicalmente” é ou não é um rip-off de “I ❤ NY”?

As mulheres estão, sim, experimentando um estilo sexual mais assanhado, mais provocador. E posso dizer que isso faz um bem danado. No começo da “invasão,” compartilhei a curiosidade, questionei a mesmice da minha própria vida sexual, conversei muito com amigas e conhecidas. A preguiça do modelo romântico-fofo era claro; ele também era um peso. E é sempre bom poder se livrar de um peso de um modelo imposto. De toda forma, depois de muito conversar, pude perceber o quanto o sexo se beneficia de sua privacidade. É um assunto muito pessoal, no qual a nossa vontade é a unica coisa que importa. Fazemos o que gostamos e o que queremos. Ponto final.

A verdade é que as pessoas estão ficando entediadas muito rapidamente. E quem sabe, talvez o sexo estivesse prestes a ficar chato. As indústrias cinematográfica e televisiva não podiam deixar que isso acontecesse.

Os seriados não deixam mentir. Percebi nitidamente a invasão das cenas de sexo, supostamente explícito, no horário nobre de canais como a Warner e a HBO (pelo menos aqui no Brasil). Se me lembro corretamente, o primeiro (pra mim) foi CALIFORNICATION. Pouco depois veio a leva de seriados que abusavam do sexo: TRUE BLOOD, BOSS, GAME OF THRONES, BREAKING BAD, MAD MEN – em ordem do meu envolvimento como telespectadora.

Foi-se a época em que seriados como BARRADOS NO BAILE faziam a cabeça das pessoas. GREY’S ANATOMY já é sinônimo de MALHAÇÃO. Não posso dizer que acho ruim, porque acho que tudo pode contribuir positivamente – ainda que nos ajudando reafirmar valores individuais que julgamos positivos. Todavia, conheço pessoas que se sentem desconfortáveis, e muito, com os avanços sexuais da nossa geração. Acham um absurdo, uma indecência, uma verdadeira apologia à prostituição.

Não precisa ser assim, né? Não é pra tanto!

Não assistir precisa ser uma opção. E não participar da “mudança” também.

Como disse, no começo achei legal. Bastante legal, até. O problema, para mim, começa quando a subversão passa a ser o “novo modelo,” uma nova regra de vida. E aí sim, essas mudanças passariam a ser chatas. Muito, muito chatas.

Daí, quando me deparo com movimentos do estilo “Make Love, Not Porn,” liderado por uma inglesa chamada Cindy Gallop me ponho a pensar. No mundo tem lugar pra todo mundo. Tudo precisa ser opcional. Não precisamos encarar o assanhamento da mídia como uma exigência a ser atendida por todas nós. Afinal, sexo é bom quando é natural, e quando é de outro jeito nunca dá pra curtir muito.

Não me preocupo com as pessoas que, como eu, se julgam capazes de resistir aos “alistamentos” praticados por vendedores de modelos de vida. A questão – e o problema – é que as pessoas parecem não entender muito bem qual é o lugar do sexo, e por isso não sabem como lidar com as modas. Porque da televisão à vida real tudo se transforma.

É o famoso caso do sexo na praia.

Uma delícia, né…? principalmente para nós, mulheres.

Talvez nossa cultura ainda não tenha o lugar do sexo muito bem definido. Eu mesma, por exemplo, muitas vezes não sabia com quem conversar sobre sexo, ou SE eu podia conversar sobre isso. Mas o assunto tem seu lugar sim, e para os mineiros, esse lugar costuma ser a mesa de bar. É tao com contar histórias, ter com quem compartilhar experiências,  e espaço para esclarecer algumas dúvidas… Assim, nos encontramos mais rapidamente e ficamos menos suscetíveis ao que está em voga. Fala que não?

Thought of the day

I just wish I were immune to these bad bad days.